📸arquivo pessoal
14/12/2022. Hoje seria aniversário de minha mãe, 99 anos. Quase um século de sua existência, mesmo que já não esteja fisicamente entre nós. Sempre relato em datas comemorativas, facetas de dona Heloísa, uma figura marcante, presente, influente, prática, apesar de discreta e de poucos arroubos sentimentais. Inesquecível.
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CICLO DA VIDA*
Deixei de ser filha, sou apenas mãe.
Apenas?
Não!! É muito, muito, muito.
A vida é um vai e vem de voltas intermináveis!
Teve um tempo, que eu era apenas filha.
Tempos depois, vivi por muito tempo
o papel duplo de filha e mãe... mãe e filha....
de cuidar e ser cuidada....
de ficar exausta e provocar cansaço...
De dar e receber...de dar e receber...
de dar e receber...
Até que minha mãe saiu de perto de mim....
e deixei de ouvir a voz dela todos os domingos
ao telefone, que ligava só para contar se chovia
ou fazia sol em Niterói,
se tinha ido à missa, onde ia almoçar....
e saber como seria meu domingo!
Hoje é domingo e dona Heloisa faria aniversário!
Certamente teria muitas coisas para me contar
mas o telefone não vai tocar.
A filha aqui vai ficar só na saudade.
Ah! mas a mãe aqui, já recebeu o telefonema da filha que está longe,
só para me contar da nova vida e deixar claro que está perto de mim.
A outra filha está aproveitando o domingo
como deve ser na idade dela.
E eu?
Não, eu não estou sozinha neste domingo, estou com todas elas,
juntas, aqui, em volta de mim.
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*Crônica publicada na coletânea “Escrituras Negras - A mulher que reluz em mim”*.
Disponível na livraria do site 📚
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