Outro dia ouvi de uma amiga: “minhas redes sociais viraram obituários”. Um ano após o início da pandemia, saber o número galopante das mortes diárias virou uma triste rotina. E os nomes das vítimas estão cada vez mais próximos de cada um de nós. Todo mundo já tem um parente que partiu num sopro ou já deu os pêsames a um amigo ou amiga que sofre a dor da perda. As páginas da internet estão tomadas por depoimentos dolorosos sobre a busca por tratamento digno aos doentes, de despedidas dramáticas de entes queridos ou pelo sofrimento profundo por enterrar seus amores, sem direito à despedida.
Vivemos um tempo de lágrimas demais, salgadas demais, pesadas demais. Vivemos uma tragédia provocada por um vírus desconhecido e devastador, alimentada por um governo que tem no comando um psicopata que coleciona cadáveres. E sabemos que são as maiores vítimas e onde elas estão.
Estou há pouco mais de um ano trancada em casa. Isolamento social total. Por opção e por proteção. Acompanho atentamente os noticiários. As manchetes são cada vez mais aterradoras. Os respiros de alento são raros. Minha rotina emocional se intercala de várias formas. Há dias de extrema revolta com o pandemônio que virou o mundo. Arregaço as mangas do velho pijama, pronto para ir à guerra. Em outros, me isolo ainda mais, mergulho em atividades lúdicas ou contemplativas. Horas de conversas com parentes e amigos pelo WhatsApp; em frente a televisão assistindo séries ou novelas com histórias anacrônicas, a impressão é que elas se passam em outro planeta; nos livros que nunca termino de ler; nas escritas que não vão adiante. Não quero falar de dores, me machuca. Mas palavras amorosas ou relatos apaixonados sobre os prazeres da vida também não me chegam. Fora de contexto. Inspiração, no momento, virou artigo de luxo. Esperança que tudo volte logo ao normal? Talvez. Esperança é um sentimento que deve esperar mais um pouco.
A luta hoje é pela sobrevivência. A minha, a sua, a nossa. Quero vacina para todos, logo, rápido, urgente. Mesmo para àqueles que renegam a Ciência. não por acaso também dependemos deles para varrer com o coronavírus do nosso meio. Só assim teremos como respirar melhor, agir com sanidade, mudar o rumo dessa história macabra, voltar a dar beijos e abraços em quem amamos, sem medo, sem culpa. Viver.
texto em parceria com o site Blogueiras Negras
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