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Foto do escritorElisa Maria

Vamos falar de envelhecimento?

Toma conta de mim a velha que está por vir.

Converso animadamente com quem nunca vi antes:

na fila do supermercado

na espera da consulta

com a vendedora da loja.

Com o vigia do prédio, comento sobre o tempo toda santa vez que nos encontramos:

“- E a chuva lá fora?”

“- O calor tá demais, hein!”

Se fico uma semana sem vê-lo no posto é certo eu perguntar: ”- Estava de férias?”

Depois, viajo no elevador rindo sozinha.

A velha que está por vir me ronda diariamente. Posso até não lembrar mais da minha idade, do meu nome... mas jamais esqueço de levar o copo d’água fresca todas as noites para o quarto. Deus me livre e guarde de acordar com sede no meio da madrugada e não ter um copo pra me socorrer.

Dissimulada, a nova velha fala coisas sérias, gracejando da vida. Quando digo para fulano que ele é um chato, porque de fato o acho chato, deixo no ar a dúvida cínica se estou sendo sincera ou se estou apenas brincando. Velha esperta, assim ela evita discussões. Como uma boa velha, perco a memória com a maior facilidade. Esqueço as tristezas num triz. Os segredos que ouço se apagam em dez minutos. Os compromissos enfadonhos se evaporam da agenda. Pagar conta no dia certo agora é raridade, calendário virou sopa de numerinhos.

Pena que momentos sagrados também se apagam com o tempo!

A velha que já me habita sabe muito bem o que é felicidade, ela viveu o suficiente para decifrar os desafios do coração: amor, paixão, atração, tesão, sedução... é tudo a mesma coisa.

O desafio da velha agora é manter lento o ritmo da caminhada rumo ao tempo que ainda lhe resta. E a tempo de conseguir amarrar a eternidade aos pés da sua cama.

*A VELHA EM MIM, do livro Meu Reverso

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Âncora 1
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